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Estudo de narrativas da Covid-19 no Brasil

 

Este é um post exclusivo escrito pelo Igor Oliveira, que coordena o projeto Favelas Contra o Coronavírus, que estuda estratégias para conter o vírus em comunidades.

Ele usou o Sentimonitor para analisar postagens dos principais influenciadores do Brasil sobre o tema da quarentena e a partir daí extrair insights sobre as narrativas desses autores.

Com a valiosa ajuda do Sentimonitor, apuramos quem foram os principais influenciadores dos temas Covid-19, quarentena e isolamento social no Brasil entre 18/03 e 17/04. O critério utilizado foi o número de interações em mídias digitais. Além de 10 contas do Twitter, encontramos uma conta do YouTube de grande impacto: a da dupla sertaneja Matheus & Kauan, que, por sinal, ficou em primeiro lugar no nosso ranking.

  1. Matheus & Kauan
  2. Henrique Mandetta
  3. Guilherme Fiuza
  4. Jair Bolsonaro
  5. Atila Iamarino
  6. Gabriella
  7. Lany
  8. Osmar Terra
  9. Laerte
  10. Rolê Aleatório
  11. Leandro Ruschel

O que aprendemos

Analisamos esses 11 usuários e conseguimos identificar com razoável clareza 33 narrativas que tiveram algum engajamento:

  • Sete delas são propostas de políticas públicas
  • Oito são hipóteses sobre o que está acontecendo (ou o que supostamente explica a questão)
  • Nove são ataques a pessoas ou organizações
  • Também identificamos três que alertam sobre riscos e seis que expõem diferentes emoções.

Apenas duas dessas narrativas foram expressadas por atores que podem ser vistos como opostos no espectro político: a crítica à censura chinesa e a necessidade de aumentar a testagem no Brasil. Essas podem ser oportunidades de criação de novas narrativas associadas.

Ao que tudo indica, a ideia de transparência e acesso à informação sobre a epidemia tem potencial. O divulgador científico Atila Iamarino, presente nos dois temas, parece ter um papel fundamental nessa agenda.

Colocamos as narrativas propositivas que apareceram em nosso levantamento no modelo conceitual proposto pelos veteranos economistas Samuel Bowles e Wendy Carlin.

Notamos que as ações propostas são todas bastante próximas das atribuições do governo na pandemia, o que parece indicar a prevalência de uma visão estreita sobre o que pode ser feito. Não é surpreendente observarmos uma definição estrita de política pública no Brasil, restrita à ação do governo. Parece haver abundante espaço semântico e narrativo para iniciativas de atores de mercado e da sociedade civil organizada.

  1. Distribuição de recursos federais às UFs e ao SUS
  2. Mudança de ministro da saúde
  3. Fornecimento de cloroquina
  4. Aumento na testagem
  5. Isenção de impostos para medicamentos
  6. Isenção do pagamento de energia elétrica
  7. Controle epidemiológico em favelas

Para nós, do Favelas Contra o Coronavírus, foi importante observar a presença do líder comunitário e comunicador Laerte dentre os maiores influenciadores.

Também foi importante conhecer a narrativa número 7 acima, propagada pelo usuário menos influente da amostra, Leandro Ruschel, com um tom que julgamos autoritário.

Agora planejamos usar o Sentimonitor para encontrar influenciadores que possam dar voz a demandas reais das favelas, que, segundo nosso simulador, seriam eficazes em mitigar a sobrecarga de sistemas públicos de saúde e o número de mortes em cidades que possuem favelas.

Igor Oliveira, Coordenador do Favelas Contra o Coronavírus

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